O Protocolo de Nagoia sobre Acesso a Recursos Genéticos e Repartição dos Benefícios

uma Análise da Imprevidência na Ratificação Brasileira

Autores

  • Elias David Morales Martinez Universidade Federal do ABC - São Paulo
  • Bruna Gaudencio Guimarães Massachusetts Institute of Technology (MIT)

DOI:

https://doi.org/10.22293/21791376.v13i24.1818

Resumo

Devido a seu potencial econômico através da bioprospecção, os recursos genéticos se tornam fatores estruturantes de uma nova ordem internacional e estabelecem uma dicotomia entre o Sul e o Norte global, a qual se materializa na condição de detentores de biodiversidade e detentores de tecnologia para explorá-la. Sendo assim, o Protocolo de Nagoia assume papel central na defesa dos interesses dos países Megadiversos uma vez que regulamenta o acesso e a repartição justa e equitativa dos benefícios advindos da utilização de recursos genéticos. Entretanto, o Brasil, um país que desde o início atuou nas negociações do protocolo de Nagoia, demorou mais de dez anos em ratificar o acordo, mesmo diante de diversos benefícios, como o controle da biopirataria e da repartição dos benefícios advindos dos conhecimentos tradicionais. A presente pesquisa propõe, com base nos teóricos Robert Putnam e Oran Young, analisar as negociações do protocolo, a tramitação do mesmo no Congresso Nacional e o Novo Marco Legal da Biodiversidade, delineando os principais agentes nacionais e internacionais que atuam sobre a temática a fim de verificar  as motivações e implicações que levaram à não ratificação brasileira do protocolo de Nagoia por tantos anos.

Biografia do Autor

Bruna Gaudencio Guimarães, Massachusetts Institute of Technology (MIT)

Mestranda em Data, Economics and Development Policy – Massachusetts Institute of Technology (MIT).  Graduada em Relações Internacionais - Universidade Federal do ABC. Graduada em Ciências e Humanidades - Universidade Federal do ABC    

Referências

ALBAGLI, Sarita. Geopolítica da Biodiversidade. Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 1998.

ALEXANDRE, Cristina V. M. O Congresso Brasileiro e a Política Externa (1985-2005). Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais). Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 142 p., 2006.

BARREIRO, E. J. “Biodiversidade: fonte potencial para a descoberta de fármacos”. Química Nova, v. 32, n. 3, p. 679-688, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422009000300012&lng=en> Acessado em: 18 mai. 2021.

BARROS, Ana Flávia Granja e. O Brasil na governança das grandes questões ambientais contemporâneas. Brasília: CEPAL/IPEA, 2011, 52p.

BRASIL - Presidência da República. Mensagem n° 147 de 21 de maio de 2015. Diário Oficial da União, Brasília, DF, nº 95, seção 1, p. 53. 2015a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Msg/VEP-147.htm

Acessado em 14 mai. 2021.

______. Marco Legal da Biodiversidade. 2ª Audiência. Brasília: Audiência Pública Interativa, e-cidadania, Instrução ao PLC 02/2015, 18 mar. 2015b. Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaoaudiencia?id=3242>. Acessado em Fevereiro 2018.

CARTA CIRCULAR ABERTA. Povos indígenas, povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares repudiam projeto de lei que vende e destrói a biodiversidade nacional, 27 fev. 2015. Disponível em: <http://www.agroecologia.org.br/files/importedmedia/carta-dos-povos-e-comunidades-tradicionais-e-camponeses-em-defesa-da-biodiversidade-ao-governo-federal.pdf>. Acessado em 13 jun. 2021.

CASTRO NEVES, João Augusto de. “O Congresso Nacional e a política externa brasileira.” In: ALTEMANI, Henrique e LESSA, Antônio Carlos (Org.). Relações Internacionais do Brasil. Temas e agendas, v.2. pp. 365-387. São Paulo: Editora Saraiva, 2006.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI. Decisões da CDB e o Setor de Negócios. Brasília, 2014, 184p. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/publicacoes/biodiversidade/category/143-economia-dos-ecossistemas-e-da-biodiversidade?download=1088:decis%C3%B5es-da-cdb-e-o-setor-de-neg%C3%B3cios> Acessado em 20 jun. 2021.

CUNHA, Manuela Carneiro da. “Populações tradicionais e a Convenção da Diversidade Biológica.” Estudos Avançados, v. 13, n. 36, p. 147-163, Ag. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141999000200008&lng=en&nrm=iso>. Acessado em: 18 mar. 2021.

DE ONDE BROTAM AS SEMENTES. Recomendações da Sociedade Civil ao Itamaraty. Brasília, 04 set. 2014. Disponível em: <http://terradedireitos.org.br/wp-content/uploads/2014/09/Recomenda%C3%A7%C3%B5es-da-Sociedade-Civil-%C3%A0-COP-12-e-MOP-7-.pdf>. Acessado em 12 jun. 2021.

FONTANA, J.; TANNER, R.; FARIAS, G.; RODRIGUES, M.; FO, S. “Amazon: fauna, flora and potencial (bio)processing applications.” Economic Botany, v. 54(4), p. 543-550, 2000. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/4256366?seq=1#page_scan_tab_contents> Acessado em: 18 mai. 2021.

FRENTE PARLAMENTAR DA AGROPECUÁRIA - FPA. Disponível em: <http://fpagropecuaria.org.br/fpa>. Acessado em 22 Ago. 2021.

GROSS, A.R. Diálogo sobre o Protocolo de Nagoya entre Brasil e União Europeia. Brasília: MMA, 2013, 29p. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/publicacoes/patrimonio-genetico?download=1026:dialogo-sobre-o-protocolo-de-nagoia-entre-brasil-e-uniao-europeia> Acessado em: 13 jun. 2021.

KOHSAKA, R. “The Negotiating History of the Nagoya Protocol on ABS: Perspective from Japan.” IPAJ Vol. 9 No. 1 p. 56-66, 2012. Disponível em: <https://www.ipaj.org/english_journal/pdf/9-1_Kohsaka.pdf> Acessado em: 22 mai. 2021.

LIMA, João Emmanuel Cordeiro. “Protocolo de Nagoia: dez questões fundamentais para entender esse acordo internacional sob a perspectiva brasileira.” In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIX, n. 153, out 2016. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=18111&revista_caderno=5>. Acessado em: 12 jun. 2021.

MARTIN, Lisa L. Democratic Commitments: Legislatures and International Cooperation. Princeton: Princeton University Press, 2000.

MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Discursos. Transcrição da Audiência Pública com o Ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, Brasília, 6 fev. 2014. Disponível em: < http://www.itamaraty.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4559:transcricao-da-audiencia-publica-com-o-ministro-de-estado-da-relacoes-exteriores-luiz-alberto-figueiredo-machado-na-comissao-de-relacoes-exteriores-e-defesa-nacional-do-senado-federal-6-2-2014&catid=194&Itemid=454&lang=pt-BR>. Acessado em: 13 jun. 2021.

MOREIRA, R. Z. Congresso e Política Externa: a influência do legislativo brasileiro na tramitação do Protocolo de Nagoya à Convenção da Diversidade Biológica. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/167776> Acessado em: 12 set. 2021.

NEHER, Clarissa. “Acordo sobre biodiversidade vai entrar em vigor sem o Brasil.” Deutsche Welle, Notícias, Meio Ambiente, 13 ago. 2014. Disponível em: <http://www.dw.de/acordo-sobre-biodiversidade-vai-entrar-em-vigor-sem-o-brasil/a-17846525>. Acessado em: 12 mai. 2021.

ORSINI, Amandine. “The role of non-state actors in the Nagoya Protocol negotiations.” In: OBERTHÜR, S.; ROSENDAL, K. (ed.), Global Governance of Genetic Resources. Access and Benefit Sharing after the Nagoya Protocol, Routledge 2013, p. 60-78. Disponível em: <http://www.crespo.be/wp-content/uploads/2012/07/Orsini-2013-ABS.pdf> Acessado em: 23 mai. 2021.

PEDIDO DE VETO AO PROJETO DE LEI Nº 7735/2014. Carta Pública endereçada à Presidenta Dilma Rousseff, mai. 2015. Disponível em: <https://www.socioambiental.org/sites/blog.socioambiental.org/files/nsa/arquivos/veta_dilma_-_pl_7735_v.2.pdf>. Acessado em: 19 mai. 2021.

PUTNAM, Robert D. “Diplomacia e Política Doméstica: a lógica dos jogos de dois níveis.” Tradução: GUIMARÃES, Dalton L. G.; GUIMARÃES, Feliciano de Sá; LACERDA, Gustavo Biscaia. Revista de Sociologia Política, Curitiba, v. 18, n. 36, 2010, p. 147-174.

SACCARO JR, Nilo L. “A regulamentação de acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios: disputas dentro e fora do Brasil.” Ambiente e Sociedade, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 229-244, June 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2011000100013&lng=en&nrm=iso>. Acessado em: 9 set. 2021

SIMÕES, Raquel Barbosa. A atuação do Brasil nas negociações do Protocolo de Nagoia sobre acesso a recursos genéticos e repartição justa e equitativa dos benefícios derivados de sua utilização e os entraves para sua ratificação no plano doméstico. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Relações Internacionais)—Universidade de Brasília, Brasília, 2015. Disponível em: <http://bdm.unb.br/handle/10483/17409> Acessadoo em: 18 mai. 2021.

TÁVORA, F.; NETO, H.; PÓVOA, L.; KASSMAYER, K.; SOUZA, L.; PINHEIRO, V. ; BASILE, F. ; CARVALHO, D. Comentários à Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015: Novo Marco Regulatório do Uso da Biodiversidade. Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, outubro de 2015 (Texto para Discussão nº 184). Disponível em: http://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td184. Acessado em: 11 jun. 2021.

TESCARI, Adriana Sader. “A legislação de acesso e repartição de benefícios no context das negociações internacionais.” In: FERREIRA, Simone Nunes; SAMPAIO, Maria José Amstalden Moraes (Orgs.) Biodiversidade e conhecimentos tradicionais associados: implementação da legislação de acesso e repartição de benefícios no Brasil. Brasília: SBPC, 2013.

TESCARI, Adriana Sader; VARGAS, Everton Vieira. “A Biodiversidade como Recurso Estratégico: Uma Reflexão do Ângulo da Política Externa.” Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), Dossiê, VOLUME 2 – ANO 6 – 2007.

Downloads

Publicado

2022-08-16

Como Citar

Morales Martinez, E. D., & Gaudencio Guimarães, B. (2022). O Protocolo de Nagoia sobre Acesso a Recursos Genéticos e Repartição dos Benefícios: uma Análise da Imprevidência na Ratificação Brasileira. Caderno De Relações Internacionais, 13(24). https://doi.org/10.22293/21791376.v13i24.1818